Publicado no dia 23 de Setembro de 2010.
Confira abaixo trecho da entrevista que a pesquisadora na UnB, Mercedes Bustamante, concedeu ao Jornal da Ciência no dia 21 de setembro. Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.
Na semana passada, o governo federal prometeu investir R$ 339,4 milhões no combate ao desmatamento do Cerrado. A medida faz parte do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento das Queimadas do Cerrado, estratégia para reduzir em 40% as emissões de CO2. O bioma, que em sua composição original cobria 24% do território nacional, já tem quase 50% da mata nativa degradada.
Segundo a professora Mercedes Bustamante, que estuda o tema no Laboratório de Ecologia que comanda na Universidade de Brasília (UNB), a degradação se intensificou na década de 1940, com o fluxo migratório para a região, e vem aumentando rapidamente. Com estatura baixa e fala calma, Mercedes é firme em suas opiniões.
Para ela, preservar o Cerrado é questão urgente e necessária para o Brasil. É ali que estão boa parte das áreas de pastagens e lavoura de grãos que abastecem o país. Sem os serviços ambientais que o bioma oferece, como manutenção do solo e regulação do ciclo hídrico, essas áreas, como a população que vive em torno delas, sofrerão as consequências.
Quais as consequências para a população local da não preservação de um bioma como o Cerrado?
Conviver com eventos de extrema seca; intensidade de queimadas; poluição do ar, que pode gerar problemas de saúde, são alguns deles.
Qual a extensão preservada do Cerrado?
O Cerrado tem dois milhões de quilômetros quadrados. Cerca de 50% estão preservados, se considerarmos apenas a extensão da cobertura vegetal. Há parques, há unidades de conservação. Mas a questão é que as áreas preservadas não são contínuas. Há fragmentos de mata nativa, o que é um problema pois dificulta o deslocamento de animais e a proliferação das espécies nativas.
Por que há menos áreas de conservação no Cerrado do que na Amazônia?
Há uma dificuldade política de criar unidades de conservação no Cerrado. A maioria das terras ali, diferente da Amazônia, é privada. As terras estão nas mãos de produtores. É mais fácil criar unidades de conservação em terras públicas e, mesmo as terras do Cerrado que pertencem à União, fazem parte da fronteira agrícola, ou seja, da reserva de terra do governo federal para fins de agricultura. Se é preciso aumentar área de produção para biocombustível, é no Cerrado que pensam.
A senhora acha que a iniciativa privada prefere estar mais presente na Amazônia do que no Cerrado?
A iniciativa privada está no Cerrado, só que de forma diferente que na Amazônia. As empresas são as mesmas, só que na Amazônia a visibilidade para elas é maior. Há interesses internacionais na região e por isso há pressões pela sustentabilidade do bioma. A verdade é que os dois biomas têm valores diferentes para o país. Só que a agenda ambiental não pode ser só para a floresta. A questão ambiental precisa ser para o Brasil.
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